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Avanços e desafios para alcançar a equidade entre mulheres e homens no mercado de trabalho
A chegada das mulheres ao mercado de trabalho no Brasil aconteceu em meados do século XIX e início do século XX, como aponta Margareth Rago, historiadora e professora da Universidade Estadual de Campinas. Até hoje, existem diversas barreiras a serem transpostas para que o cenário esteja perto do ideal. Os recortes de raça e classe, neste contexto, evidenciam diferentes impactos em suas vivências, de acordo com o ponto de partida de cada uma. As barreiras no mercado de trabalho são ainda maiores para mulheres negras, por não terem as mesmas oportunidades de acesso à educação.
Nos últimos anos, organizações têm buscado avançar quando o assunto é a contratação de mais mulheres ou a alçada de colaboradoras à liderança. No entanto, superar o sexismo no meio corporativo vai muito além de alcançar números, é preciso transformar a cultura da organização e postura dos líderes, por meio da desconstrução de pensamentos enraizados em nossa cultura que sustentam a ideia de que mulheres são menos capazes de desempenhar funções fora da esfera doméstica. Construir este diálogo de conscientização com os demais funcionários da instituição é igualmente importante
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Discriminações enfrentadas pelas mulheres no mercado
A busca pelo avanço na contratação de mulheres e ocupação de posições de liderança, não ocultam a real conjuntura de discriminação e desigualdade.
Mesmo que muitos tenham a impressão de uma evolução, um levantamento realizado pelo IBGE e divulgado no primeiro semestre deste ano, mostra que o número de mulheres em posição de liderança no Brasil se manteve praticamente estável.
A pesquisa, que compila dados de 2019, aponta que elas ocupam somente 37,4% dos cargos altos. Na edição anterior do estudo, publicada em 2018 com dados de 2016, as mulheres ocupavam 39,1% dos postos de liderança.
O índice que representa a igualdade dos salários também apresentou estabilidade: na edição divulgada em 2018, elas ganhavam 77,5% do que os homens recebiam. Agora, ganham 77,7% do valor pago a eles. O estudo revela que algumas evoluções que vemos não representam a totalidade do cenário brasileiro.
Mulheres são preteridas em processos seletivos por serem mães, gestantes ou recém-casadas, além de muitas vezes serem subestimadas, não sendo consideradas para cargos de liderança. A questão vai além de ter mulheres no mercado de trabalho, é necessário agir para eliminar as barreiras que as impelem a sair e/ou avançar. A educação corporativa pode ser uma forte aliada neste processo de conscientização, mas é preciso convidar outras frentes da organização para este debate.
Medidas práticas para promover a equidade
Para se certificar de que o ambiente é, de fato, seguro e saudável para as funcionárias mulheres, é preciso planejar ações que conscientizem sobre o tema.
• Definir uma estratégia com a área de Recursos Humanos
Para desenvolver uma boa política de equidade entre homens e mulheres, a organização precisa ter um diagnóstico do cenário atual e visualizar suas ambições e objetivos. Traçar metas e refletir sobre quais as mudanças necessárias para alcançá-las e alocar recursos, uma vez que essas mudanças exigem investimento financeiro e de tempo.
• Adaptar os processos e políticas de gestão de pessoas
Em grande parte das organizações, a disparidade entre homens e mulheres começa nos processos seletivos. Por isso, é fundamental repensá-los para começar a transformar as estruturas. Criar programas de seleção voltados exclusivamente para mulheres é um bom caminho para equiparar essa diferença, assim como criar critérios de seleção padrão para candidatos e candidatas a uma mesma posição.
• Desenvolvimento
Nesta jornada por um ambiente inclusivo, a educação corporativa é uma ferramenta de transformação, pois permite que a mudança ocorra por meio do questionamento e educação.
Fornecer instrumentos para o desenvolvimento é uma maneira de estimular o aprendizado constante das funcionárias e se certificar de que elas continuarão crescendo em suas áreas. Algumas organizações oferecem programas de mentorias para as mulheres para prepará-las para cargos de alta liderança ou conselhos. Também é importante conscientizar a liderança para oferecer às mulheres oportunidades de desenvolvimento, como assumir projetos estratégicos ou novas responsabilidades, fornecendo o suporte necessário para estimular a autonomia.
Promover palestras e eventos frequentes para toda a organização são alternativas para disseminar conhecimento a respeito do tema, fomentar a reflexão, bem como manter a constância do diálogo.
Os programas de desenvolvimento da liderança e formação de novos líderes se fazem necessários para combater vieses inconscientes e preparar mulheres e homens para trabalharem juntos para um ambiente corporativo inclusivo em que o mérito prevaleça. Assim a liderança atua como multiplicador deste conhecimento, ensinando pelo exemplo.
• Remuneração e Benefícios
Com o mesmo cargo ocupado e as mesmas funções sendo executadas, a remuneração deve ser a mesma. O fim da diferença salarial entre homens e mulheres é um sinal de que ambos os profissionais têm a mesma capacidade e relevância para a organização. Os benefícios também podem contribuir para mulheres avançarem em suas carreiras e no mercado de trabalho como um todo. Oferecer licença paternidade equivalente à licença maternidade e recursos como creche para pais e mães, reforça a ideia que criar os filhos não é só responsabilidade da mulher e ela pode ter outras ocupações na vida.
• Ética e ouvidoria
A organização deve estabelecer um canal de confiança com essas mulheres, para que elas se sintam seguras e possam relatar questões do dia a dia, como discriminação ou assédio. Promover espaços de diálogo entre as mulheres também é um movimento importante a ser feito, pois proporciona a troca de experiências e conhecimento e uma rede de apoio.
Aumentar a representatividade de mulheres no mercado de trabalho e em cargos de liderança é um processo contínuo e que exige disciplina. As organizações precisam estar atentas aos comportamentos e pensamentos que querem combater, estimular a autocrítica e disposição em transformar este cenário.